Primeiro
São três da tarde. Os meus pés abanam ao sabor da brisa. Estou sentado na árvore ao lado de ninguém. Por momentos os meus pensamentos traíram-me, juro que te vi ali a meu lado. Com os teus cabelos e o teu sorriso. Fecho os olhos, imagino te a ti, sorrio e deixo um brilho escapar dos meus olhos.
Vendo o chão lá em baixo penso na altura mais
uma vez. Salto. Os meus joelhos sentem o impacto mas tratando-os com carinho
das minhas mãos eles aliviam-se e ficam mais fortes. O meu cabelo continua
preso. Coçando a nuca, indeciso para onde ir, sigo em frente. Em frente sempre
segui e em frente sempre seguirei.
Só conheço a floresta. Não sei de mais nada
para além daquilo. Que amor de vida. Amor de vida com amor à vida. Sem
tormenta, só essência.
Passos que ecoam na escuridão, é assim o término de toda a dor.
Passos que ecoam na escuridão, é assim o término de toda a dor.
Mas quem serás tu que me
atormentas numa memória que não reconheço? Questiono-me e reviro os olhos. Ouço o restolhar das folhas
nos pés, sinto as pedras nos calos, os picos a espetar-se nos pés. Mas
não me faz confusão, nenhuma. Sempre vivi assim, sempre viverei assim.
Abre as
janelas disseram eles. Forçosamente elas se abriram.
Ouvi o meu nome! O meu nome? Se sou só eu porque tenho nome? O que é um nome?! A ecoar no vento…. Arrastado levemente pela brisa nas árvores. Fecho os olhos mais uma vez e abano a cabeça. Os pássaros nunca se cansam, nunca se limitam. Voam e cantam, livres de tudo. Mas eu sou livre, não? Caminho nesta floresta sem rumo nem medos. Encontro a água na mesma fonte. Os frutos na mesma árvore. Abrigo na mesma caverna. Lenha na mesma fogueira.
Sempre, todos os dias, todas as noites. E
vagueio. Sempre tudo igual, sempre tudo diferente. Já fui às montanhas, já fui
às savanas. Já fui aos oceanos, já fui aos vulcões. Então onde estou? Na
floresta. Onde mais haveria de estar?
E quem és tu?
A tua sombra! O teu cabelo! Vi-os por aqui.
Passaram de relance. Corro! Grito de alegria por algo que não sei o que é! Sou
feliz, sou livre! Um rio desenrola-se diante de mim. Sem roupa mergulho nas
frias águas. Fecho os olhos enquanto sinto a corrente a passar por mim, leve
mas forte. Fraca mas energética! Viva!
Debaixo dos meus pés, pequenos e grandes
seixos. Mergulho e apanho um. Castanho claro, liso. Quando venho à superfície
sinto o ar a faltar-me. Respiro fundo e ouço toda a vida da natureza que sente
o meu retorno ao presente, na Floresta.
Como um cão, nado até à costa. Pouso a pedra
no chão e sento-me num tronco de madeira ali. Pegadas no chão? Quem esteve aqui?
Levanto os olhos e volto a cabeça. Ninguém, vazio, nem um sinal.
Mas agora um riso. Eras tu? Olho para a
floresta. Vejo um alce a comer folhas e a bater com o casco no chão enquanto eu
o fito. Baixo o olhar e ele vai-se embora. Fica apenas o silêncio ensurdecedor
da floresta.
O chão! Fecho as mãos sobre os meus joelhos.
Sinto a barriga a subir e a descer ao som da respiração. Toda esta
tranquilidade, toda esta paz. Que magia! A floresta dos meus sonhos, nela que
sempre vivi e onde sempre soube ser como um ser.
Agora, vendo o passado, lembro-me da minha
infância. De correr, de trepar as árvores e daquele toque suave dos meus
pais antes de desaparecerem na miragem quando abri os olhos para este dia
eterno.
A Floresta - Inês Coelho
A vida eterna no verso eterno que se estende pelos tempos na perfeita emoção.
0 comentários:
Enviar um comentário