Link: A Floresta - I
Segundo
E a manhã ainda vai no alto. Esta é longa,
deve ser do inicio do verão. As borboletas voam e algumas abelhas passam de
rajada enquanto as vejo, encantado. Agilmente movo os meus pés pelas pedras e
embrenho-me na floresta. Sem fome nem sede sigo caminho e encontro uma pequena
falésia.
Trepando-a como sempre fiz, como todas as
vezes, sempre como se fosse a primeira. O que assim o era. A eterna novidade do
mundo!
As minhas mãos transpiram, mas não largo as
reentrâncias nem as rochas. Não estou cansado quando chego ao topo. Abro os
braços e dispo a camisola. Diante de mim, vazio. Debaixo de mim, um rio em
queda livre para o infinito debaixo das nuvens.
Saltei do precipício da aceitação
Mergulhei no vazio da entrega
Mas quem és tu? Que numa miragem saltas! Espera!
Agora sou livre enquanto voo.
Nas águas tumultuosas eu caio.
Sigo-te e salto! O voo eterno, as garras do
ar, a magia da frescura, o vento que rodopia, os olhos que cintilam, os pulmões
que respiram e a mente que extasia! A água fria que me enregela a cabeça. O
impacto que me leva até ao fundo. Nadando, por debaixo da caverna, respirando
do outro lado, na cave que cintila.
E quem és tu?
Cristais cintilantes nas paredes! Estou louco
e admirado com a luz! Salto de rocha em rocha em busca dessa pedra que brilha
que me lembra… De nada! Tiro uma, duas, três, quatro. A luz cai e acende-se um
caminho para dentro da caverna.
Percorro-o como uma criança curiosa. Nada mais
disso passo. Pequeno e jovem, cada vez mais novo, rumando para esse útero da
terra que me protege e me abriga. Pés saltitantes e mãos que tremem! Sombras
crescentes na Mãe! Mergulho na escuridão e envolto na penumbra encontro
caminho.
Fecho os olhos. Durmo. É a noite eterna, as
estrelas cintilam. “Não”, ecoa a tua voz na minha cabeça. É a tarde. Pois sim!
Cintilantes na caverna estão os cristais, à minha direita, um caminho.
Percorro-o. Diante de mim o que vejo? Pinheiros altos e escuros como o breu,
com a luz do sol a entrar no vazio, quebrada pelos troncos. Que bela visão!
Mas quem és tu?
Vejo agora a tua sombra cintilante em todos os
pinheiros! Acenas-me na dança do vento, murmuras-me no silêncio das folhas. De
braços abertos, rodopio. Encantado, deito-me na terra.
Como folhas castanhas deixo-me cair. Como árvores
despidas, adormeço. Como o urso, retorno à caverna e; como eu; findo mais um
ciclo.
Mas quem és tu?
Um esquilo que se aninha no meu tronco. Um
coelho que afago na minha mão. Um lobo que me protege dos males do exterior.
Uma cobra que brilha na escuridão. A natureza eterna e imutável. E eu, em paz
com o mundo, em paz com a vida. Esta vida que existe apenas aqui, apenas na
Floresta.
Nesta floresta que vibra de vida a cada
espaço. Nesta floresta onde o calor e o frio são o reflexo do meu espírito.
Nesta floresta onde paz é o sinónimo de lá viver e onde coabitam todos os seres
em harmonia.
Volta a inspiração, volta parte de mim. Escrevo
palavras, agora com significado.
O teu toque! O teu doce toque! O teu vestido, o teu branco vestido!
Vi-te! Onde andas tu?
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