A Floresta - II

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Segundo


E a manhã ainda vai no alto. Esta é longa, deve ser do inicio do verão. As borboletas voam e algumas abelhas passam de rajada enquanto as vejo, encantado. Agilmente movo os meus pés pelas pedras e embrenho-me na floresta. Sem fome nem sede sigo caminho e encontro uma pequena falésia.

 Trepando-a como sempre fiz, como todas as vezes, sempre como se fosse a primeira. O que assim o era. A eterna novidade do mundo!
 As minhas mãos transpiram, mas não largo as reentrâncias nem as rochas. Não estou cansado quando chego ao topo. Abro os braços e dispo a camisola. Diante de mim, vazio. Debaixo de mim, um rio em queda livre para o infinito debaixo das nuvens.

Saltei do precipício da aceitação
Mergulhei no vazio da entrega

 Mas quem és tu? Que numa miragem saltas! Espera!

Agora sou livre enquanto voo.
Nas águas tumultuosas eu caio.

 Sigo-te e salto! O voo eterno, as garras do ar, a magia da frescura, o vento que rodopia, os olhos que cintilam, os pulmões que respiram e a mente que extasia! A água fria que me enregela a cabeça. O impacto que me leva até ao fundo. Nadando, por debaixo da caverna, respirando do outro lado, na cave que cintila.
 E quem és tu?

 Cristais cintilantes nas paredes! Estou louco e admirado com a luz! Salto de rocha em rocha em busca dessa pedra que brilha que me lembra… De nada! Tiro uma, duas, três, quatro. A luz cai e acende-se um caminho para dentro da caverna.
 Percorro-o como uma criança curiosa. Nada mais disso passo. Pequeno e jovem, cada vez mais novo, rumando para esse útero da terra que me protege e me abriga. Pés saltitantes e mãos que tremem! Sombras crescentes na Mãe! Mergulho na escuridão e envolto na penumbra encontro caminho.

 Fecho os olhos. Durmo. É a noite eterna, as estrelas cintilam. “Não”, ecoa a tua voz na minha cabeça. É a tarde. Pois sim! Cintilantes na caverna estão os cristais, à minha direita, um caminho. Percorro-o. Diante de mim o que vejo? Pinheiros altos e escuros como o breu, com a luz do sol a entrar no vazio, quebrada pelos troncos. Que bela visão!
 Mas quem és tu?

 Vejo agora a tua sombra cintilante em todos os pinheiros! Acenas-me na dança do vento, murmuras-me no silêncio das folhas. De braços abertos, rodopio. Encantado, deito-me na terra.

Como folhas castanhas deixo-me cair. Como árvores despidas, adormeço. Como o urso, retorno à caverna e; como eu; findo mais um ciclo.

Mas quem és tu?

Um esquilo que se aninha no meu tronco. Um coelho que afago na minha mão. Um lobo que me protege dos males do exterior. Uma cobra que brilha na escuridão. A natureza eterna e imutável. E eu, em paz com o mundo, em paz com a vida. Esta vida que existe apenas aqui, apenas na Floresta.
 Nesta floresta que vibra de vida a cada espaço. Nesta floresta onde o calor e o frio são o reflexo do meu espírito. Nesta floresta onde paz é o sinónimo de lá viver e onde coabitam todos os seres em harmonia.

Volta a inspiração, volta parte de mim. Escrevo palavras, agora com significado.



O teu toque! O teu doce toque! O teu vestido, o teu branco vestido!


Vi-te! Onde andas tu?

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