Regresso

Há talvez alturas em que olho para o presente e o presente já não se torna o tempo persistente
Mas sim contemplativo onde a instância que se vive é a persistência do que já se pressente.
Por uma eternidade olho então o horizonte, e nos contornos suavizantes da paisagem que vislumbro
Um retrato do que fui aparece. Sempre sábio, sempre atento. Uma figura que se ri omnipresente.



Diz-se que a vida é como uma espiral. Não uma repetição constante de si mesma mas uma escada em espiral, onde cada cena é repetida, com circunstâncias diferentes, com pessoas diferentes, em tempos diferentes. Nos mesmos moldes.

Mas de que serve dizer-se tal, sem o viver? Como nos ciclos que nos afastam daquilo que importa e daquilo que a alma grita por viver, também neles mesmos somos impelidos com mais força para aquilo que, um dia, talvez nos seja verdadeiro. Em certa medida não só vivemos a espiral eterna e a repetição constante como também somos dilacerados pelos extremos do ciclo, procurando dar resposta a vontades muitas vezes contraditórias.

Em que ponto nos poderemos então encontrar? Algum desses extremos que nos leva até pontos onde nos sentimos confortáveis, radicais na nossa forma de ser? Ou naquele suave e firme meio, onde a individualidade se rasga, dividida por dois seres que lutam por dominar uma vida que se ergue contra um mundo? Em jeito de resposta, a solução nunca poderá ser dada. Enquanto seres somos levados pelo que faz vibrar a alma e vibrar o corpo, mesmo que um leve à destruição do outro.

O nosso branco no preto e preto no branco parece que não tem fim. O yin e o yang das nossas naturezas pode parecer querer levar a melhor e procurar dominar, mas tal como a noite e o dia e a passagem das estações, há espaço para os dois coexistirem de forma natural. Tal como a Natureza é feita de Vida e de Morte, nós também somos feitos de extremos que se completam entre si para formar a particularidade única que é a experiência da consciência humana, consciente de si.

Por vezes a noite e as estrelas governam os nossos céus, mais tempo do que acharíamos ser bom. Por vezes governa o dia e o sol. Qual a nossa natureza? Não sabemos. Poderemos controlar? Infelizmente parece-me que não. E não é domínio sobre as nossas vozes, sobre as nossas emoções e sobre as nossas consciências que o resolve. Diz-nos, talvez com sensatez, a voz da experiência, que a repressão do que nos define enquanto seres acaba, no fim, por ser a nossa ruína.

O propósito disto?

É um ciclo. É só um ciclo.

0 comentários:

Enviar um comentário

 

Na Ribalta

Poeira

Fonte:  http://www.rawscience.tv/global-smart-dust-may-be-the-ultimate-internet-of-things/ Uma dor que me aflige e me queima Um to...