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Por ironias daquilo a que chamo estatística caótica do universo, estava eu na Finlândia quando me deparei com o termo koselig que em Norueguês está relacionado com o significado de acolhedor mas significa tão muito mais. Infelizmente, devido a questões linguísticas, o termo não tem uma contra-parte no Finlandês, falado no local onde passei mais de um mês. No entanto, tenho que agradecer ao Emil por me ter ajudado com a tradução apresentando um termo que pode ser o correcto na língua, vindo assim mukava.
PH: Keith
Agora, porque isto? Que importância teve tal termo para mim e para o que senti? Enfim, em verdade, em verdade, até a mim o conceito me escapa pois o sentimento de acolhedor aí transmitido é mais do que a palavra em si pode descrever. É um sentimento de intimidade, calor e felicidade difícil de descrever para quem não vive, eu inclusive. No entanto sinto-me capaz de me dar ao luxo de afirmar que o senti em Lassela, isto é, a casa onde eu e mais 10 pessoas habitámos durante 5 semanas em Villa Elba, perto de Kokkola.
Pergunto-me então, como será possível, que junto ao mar, no centro da Finlândia, possam habitar 10 pessoas num ambiente tão mukava? Se calhar por termos vivido emoções ao rubro na primeira semana com as dificuldades passadas. Ou se calhar por não haver privacidade e habituarmos-nos à ideia de que para sobreviver lá teríamos de abdicar da noção de espaço pessoal e barreiras emocionais.
Pergunto-me então, como será possível, que junto ao mar, no centro da Finlândia, possam habitar 10 pessoas num ambiente tão mukava? Se calhar por termos vivido emoções ao rubro na primeira semana com as dificuldades passadas. Ou se calhar por não haver privacidade e habituarmos-nos à ideia de que para sobreviver lá teríamos de abdicar da noção de espaço pessoal e barreiras emocionais.
De certa forma torna-se difícil num ambiente tão carregado emocionalmente não sermos levado nessas emoções todas. Mais difícil ainda quando o cansaço atinge e acabas por cair nos pufes ao fim dum dia de trabalho, adormecendo a ouvir música. Bem, se calhar a última parte será mais minha porque aparentemente aprendi a dormir em tudo o que é sítio.. E as fotos bem o comprovam... E então é difícil resistir a essa noção de acolhedor. É difícil resistir a todo esse conceito de mukava quando aprendes a lidar com pessoas completamente diferentes, a aceitá-las, a aceitar os teus choques com elas e vice-versa.
Pois quando dás por ti... Passou uma semana e estás a descansar após os dias mais stressantes da tua vida. Passaram duas semanas e estás a conhecer com quem habitas. Passaram três semanas e as intimidades já são tantas que os olhares se trocam e os risos multiplicam-se. Quatro semanas passam e ninguém quer saber. As emoções assumem-se e começa-se a perceber que o nosso tempo está a chegar ao fim.
Chega a quinta semana. As emoções voltam ao rubro. Começam as dúvidas na cabeça. Ninguém quer voltar, mas também já é demasiado peso emocional ficar mais tempo do que é suposto. A tristeza pesa. E.. é a última noite... Uns mergulham no Mar Báltico às 3 da manha para depois adormecerem e acordarem pouco antes dos taxis chegarem.
Aí cai o peso da realidade. Voltarei a ver-vos? Voltarei a sentir-me tão em casa? O sentimento de mukava nunca ganha tanta força como agora. São os últimos minutos. Silêncio. Beijos e abraços de despedida misturadas em lágrimas salgadas ainda por cair. Alguma vez voltaremos a estar juntos?
O comboio leva-nos. As lágrimas caem. A tristeza assola e o amor dá alguma esperança. Valerá a pena? Todas aquelas últimas horas em todos os locais evocam mukava. O comboio é a nossa casa, o aeroporto é a nossa casa. O avião é a nossa casa. Amesterdão é a nossa casa.
O comboio leva-nos. As lágrimas caem. A tristeza assola e o amor dá alguma esperança. Valerá a pena? Todas aquelas últimas horas em todos os locais evocam mukava. O comboio é a nossa casa, o aeroporto é a nossa casa. O avião é a nossa casa. Amesterdão é a nossa casa.
E por fim.. O último adeus.
Será este o fim de mukava? Podemos acreditar que não. Podemos evitar as fantasias. Mas no fim de contas, ainda o sentimos, quando fechamos os olhos ainda estamos lá, de volta a Lassela. Então e agora?
Só o tempo dirá.
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Só o tempo dirá.
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