O Samsara das Escolhas

Nascimento, vida, morte, renascimento. O ciclo repete-se indefinidamente. É verdade sim que a cada instante que passa ficamos intrinsecamente diferentes do que fomos. Mas porque motivo tudo se repete? 


"Moksha" por Ravi Dabas - 14 de Março de 2012

Dizem os Vedas, escritos Hindus, que o Samsara é o ciclo de nascimento, vida, morte e renascimento ao qual, nós, Atman, estamos presos e do qual nos procuramos libertar. E é com cada ação, Karma, que criamos o nosso próprio destino trazendo as consequências daquilo que semeamos. Bom ou mau. Não é para pensarmos porém que Karma é um conceito vingativo, não, antes pelo contrário. Karma é simplesmente ação. Akarma é inação. E tal como ações geram ações, Karma gera Karma. Mas o propósito disto não é ensinar Hinduísmo a ninguém. É apenas para servir de ponte de ligação.

A sensação de ciclicidade na nossa vida é algo presente e inerente à própria existência enquanto seres conscientes da nossa existência. Repetimos experiências, tanto boas quanto más, acabando por deambular naquele fatalismo que nos fecha à condição de passarmos pelo mesmo, mais uma vez. Mas será esse fatalismo apenas um falso toldo, criado pelas condições que impomos às nossas escolhas? Ou será que tudo realmente estará programado para de certa forma se passar como se passa, sem alguma vez o status quo se alterar?

Gosto de ser positivo em relação a isso. Embora seja negativo em relação a quase todas as expectativas, não me nego a mim mesmo o prazer de lutar para compreender as minhas escolhas, o que as tolda e o que gere os meus ciclos. Isto porque durante alguns anos fui, e continuo-o a ser, limitado pela mudança de estado de espírito inerente à própria altura do ano. Fechando-me sobre mim mesmo a partir do Outono, vivo uma fase de introspeção por vezes bastante dura comigo mesmo, até começar a desabrochar de novo, na Primavera, para no Verão explodir duma forma extrovertida, ganhando ímpeto para "sobreviver" a mais um ciclo "negativo" que presumo sempre que se avizinha. 

É assim que tem sido. Porém este ano tem sido uma exceção interessante. Ao ganhar consciência (com bastante ajuda de outros) de muitas das minhas tendências nestes últimos meses, consigo perceber de que forma o ciclo me afeta e como me programei inconscientemente para seguir sempre este padrão comportamental, indefinidamente. É então que, ao tomar consciência de como ele me guia as várias ações, posso fazer algo diferente. Posso escolher a alternativa. No entanto que fique ciente. Isto em nada me faz melhor ou pior que os outros. Faz-me apenas escolher um caminho diferente a percorrer daquele que já percorri até agora. Isso enquanto existo e aproveito o bom e o mau da experiência humana. 

Porquê então o Samsara das Escolhas? Porque apesar de o Samsara ser um ciclo, não é um círculo. É uma espiral. Repetimos as experiências mas mudamos as circunstâncias. Quando vivemos o mesmo outra vez, não o vivemos da mesma forma nem somos os mesmos. E é essa mudança de perspetiva que nos potencia a aprender com cada pedra que se apresenta no caminho. É essa visão diferente, que se deixarmos o fatalismo para trás e olharmos para o que está em nosso redor, nos permite tentar caminhar para fora desse ciclo repetitivo de escolhas que normalmente resultam em situações desagradáveis.

Mas sejamos francos. Saímos dum ciclo e entramos noutro. É inevitável. Porém, há sempre escolha. Podemos sempre ver o que fazemos, podemos sempre aprender com nós mesmos. A introspeção é tão mas tão útil para isso. Um apoio forte em amizade ainda mais. Por vezes temos apenas de ouvir tanto o que os outros nos dizem como aquilo que o nosso coração nos diz. E isto nada tem a ver com teorias ou com receitas mágicas. É apenas uma forma diferente de estar na vida e cada um encontra a sua. 

Agora, porquê escolher Moksha representar isto numa imagem? Apenas porque Moksha é a libertação do Samsara e, porque alcançar Moksha todos os dias é olhar para a vida como uma criança a olha, com o pasmo inicial. Tal como Alberto Caeiro dizia: "Sinto-me nascido a cada momento/Para a eterna novidade do Mundo."  E assim.. Escolher!





0 comentários:

Enviar um comentário

 

Na Ribalta

Poeira

Fonte:  http://www.rawscience.tv/global-smart-dust-may-be-the-ultimate-internet-of-things/ Uma dor que me aflige e me queima Um to...