Perdido num Mar de Flow

Por vezes sinto esta urgência de escrever, de partilhar o que sinto, acredito e vejo desenrolar-se diante dos meus olhos. E de alguma forma, deturpo o que vejo. Procuro as melhores palavras deixando as que saem naturalmente perder o seu rumo e sentido, tentando (inutilmente) alcançar uma qualidade que parece não estar ao meu alcance. 




Como é que posso explicar isto? A vontade de escrever é, por si própria, uma explicação. Surge, sem forçar, completamente livre de amarras e apenas definida por um conceito vago que nem sempre consigo interpretar. Vislumbro o mar, a fé, a vida, as experiências e, no entanto, parece que todas se acabam por misturar numa melting pot onde se perde o fio à meada. Mas que bom que seria que isso não fosse o menor dos males. É que é quando me prendo apenas a um conceito que quero desenvolver e explorar que a dificuldade começa. É quando procuro explicar uma simples ideia que todo o fio se adensa e a Flow mistura-se com força e o natural ocorre tanto por si próprio como por vontade minha. 

Se calhar devia explicar o que é a Flow. Aquilo que procuro seja quando toco, escrevo ou até viva o meu dia a dia. É, em si, a consciência do momento presente e a imersão total no que se está a fazer. Muito utópico, se calhar, para o comum de nós, mas quantos não sentimos isso? De vivermos tão intensamente um momento que parece que não existe nada para além desse momento? De certa forma acaba por ser também um dos propósitos da meditação.

Então, se sinto os conceitos e as ideias a fluírem para as minhas mãos, muitas vezes escrevendo coisas sem nexo aparente ao inicio - só aquele que descubro quando as releio e retoco - o que me impede muitas vezes de escrever assim tão livremente? Acho que de certa forma é o medo de me abrir perante os outros. Um medo não de todo infundado. Honestidade dá caminho à vulnerabilidade e a vulnerabilidade é um daqueles aspetos fundamentais da experiência humana que muito se tenta esconder. Agora sim, um contra-senso. Como posso eu escrever num blog sobre coisas que vêm ao de cima em Flow mas que tento controlar para não revelar o que sinto realmente sobre o que escrevo? Absurdo.

Uma vez disseram-me para abrir o cofre, uma clara referência ao coração e aos tesouros que ele guarda. Por vezes sinto que se o abrir e deixar varrer tudo o que guardo então, o que escrevo, toco e faço ganha uma vida e natureza nova, completamente distinta da anterior! Mas por outro lado, se me deixo varrer pelo que sinto, também me afogo nesse mar, navegando à deriva em confusão e vulnerabilidade. 

Pois bem. É claro que escolho a primeira! Nada como um primeiro passo em que admito a fragilidade e me proponho a transformar a natureza da minha escrita e do meu estar no mundo para algo mais natural e vindo de mim. Algo mais raw e verdadeiro. Enfim, para aceitar que não tenho controlo sobre nada e que a insegurança e vulnerabilidade são condições fundamentais. 

Daquelas coisas. Penso, faço. Ou assim espero. Mas, como um amigo meu me disse hoje, a mudança faz-se com cada pequena ação cujas consequências serão completamente imprevisíveis e caóticas. Entropia no seu melhor.  




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