Motif

Motif: Uma ideia dominante ou recorrente num trabalho artístico. 




A Vida é se calhar o maior Motif de todos na arte. E, mais longe ainda.. Viver é a maior arte de todas. É arte escrever sobre a vida enquanto a hora vai tarde e se ouve o que outros sentem e vivem. É uma ligeira catarse. E nessa catarse consigo sentir-me num daqueles raros momentos em que não me sinto sozinho, em que não me sinto perdido num mar estranho onde vejo tantos sem rumo mas com a fachada estampada na cara. Num estranho mundo onde também me sinto em casa, onde olho para o céu e vejo nas nuvens um reflexo de todo o potencial humano.

É se calhar existencialismo o que me ocorre mas também nihilismo e fatalismo. Por todas as vezes onde para mim a desgraça já não se traduz em surpresa e onde toda a boa surpresa se traduz em negativa expectativa. Mas também por todas as vezes onde o mau se transforma e onde no acaso se encontram das melhores viragens e se formam as ligações que perduram para uma vida e, para lá desta e se for esse o nosso destino.

Afinal, não sabemos o que estamos a fazer. Este mundo não é uma estação de teste no autocarro da espiritualidade. Este mundo é a nossa casa agora e os nossos átomos vieram das estrelas para no fim alimentarem milhões de pequenas criaturas no chão onde forem enterrados. Não consigo viver num local onde todos se refugiam numa crença que isto é passageiro e que isto ou não interessa ou não tem o devido valor. Porque motivo me hei-de refugiar desta linda e trágica experiência numa crença ou numa ideia que me afasta da experiência de viver, aqui e agora? Poderei acreditar no infinito, afinal, o universo é infinito e nele estão guardadas todas as hipóteses em todas as suas contradições e falácias. O infinito admite isso na sua definição, pelo menos para mim. Mas eu existo, e assim como eu.. Mais 7 mil milhões de consciências nas suas falhas e nas suas dores. Nas suas alegrias e nas suas artes. E temos direito a viver e a experienciar a vida no seu potencial todo.

Não há refugio para a dor mas também não há refugio para a alegria e fugir a estas duas naturezas é mau. É deixar de parte quem nós somos e deixar de parte o que existe para ser vivido. Existe paixão, existe desejo. Existe ódio, existe rancor. Existe perdão e existe amor. Todas as emoções com todas as suas consequências existem e vão ser vividas. Não nos devemos arrepender de as sentir nem vergonha por as ter. Nem é que sejam as nossas imperfeições que nos tornam perfeitos, nada disso. É apenas natureza, é apenas a forma como estamos constituídos, como existimos, como fomos criados. E reprimir leva à destruição à queima do interior. Mas na destruição poderemos construir. Na explosão de toda a dor poderemos limpar e purgar o nosso interior de todo o seu passado e por fim olhar para o futuro com uma nova luz.

Na amizade encontramos forças, no amor encontramos um refúgio. Na família encontramos as raízes e nos sonhos encontramos a determinação. No falhanço conhecemos o chão. No levantar revemos as cores do céu. No caminho, vivemos a paisagem. Na morte seguimos para a aventura final. Na vida, vemos o tempo a passar... Efémero, rápido, difuso! 

Só quando estamos com quem amamos, só quando nos abstraímos da sua existência, só quando as preocupações desaparecem com um mergulho na água gélida duma praia é que a vida parece fazer sentido. Porém na desgraça, na pior de todas as dores. Quando encontramos um chão no fundo do poço e olhamos para as nossas sujas mãos é que vemos realmente a beleza de existir. É quando consideramos o fim que iremos ver a beleza de simplesmente estar vivo. É quando perdemos que nos apercebemos da beleza da simples companhia daqueles que nos são mais próximos.

Vivemos para perder para na perda aprender a viver. E na aprendizagem apenas nos apercebemos que erro após erro se faz a nossa experiência e que por fim.. Somos como crianças, cada vez mais despertos para a nossa falta de visão! Na maior maravilha que existe. Estar consciente da sua própria consciência.

E se calhar.. Este é o maior Motif de todos. Afinal o que seria dos poetas sem a tragédia e o que seria das músicas sem o amor? 



0 comentários:

Enviar um comentário

 

Na Ribalta

Poeira

Fonte:  http://www.rawscience.tv/global-smart-dust-may-be-the-ultimate-internet-of-things/ Uma dor que me aflige e me queima Um to...